Emygdio de Barros

PEQUENA CRÍTICA | O CANTO DO OLHO

por Luiz Guilherme Barbosa

Aquilo que foi lido (por pele, pensamento, olho, escuta, olfato, língua, esquecimento) produz talvez espaço, uma paisagem, para quem leia. Espaço, por exemplo, terapêutico. Como os que lemos (cômodos vazios cheios de cores) em telas de Emygdio de Barros (1895-1986), pintor do Engenho de Dentro. Representam salas, janelas e corredores pintados no Centro Psiquiátrico Nacional. Também flores e gatos, os jardins pintados no Hospital. De azul a azul de alto a baixo, a tela de 1973[1] passeia pelas folhas de uma árvore que, entre constituir e fragmentar o espaço, aproxima-se de uma pessoa sentada de costas num banco de cimento, próximo à raiz, no chão tingido também com a matéria luminosa do sol. Próximo às “raízes da estrutura psíquica”: num dos textos dedicados às telas do pintor, Mário Pedrosa assim formula a perturbação de uma tela como as de Emygdio que pesquisam “um novo modo de sentir”.[2] Trocar olhares com a paisagem em volta, ainda que paisagem mínima ou mínimo olhar, e colori-la, ou melhor, conferir paisagem à cor, estar em dúvida entre a cor e a paisagem e, assim, desenhar uma linha que se torne fundo, ora volte a ser contorno – a tenuidade dessa pintura parece que surgiu de esse pintor ter sido, num instante, a paisagem em que recaiu algum olhar.

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