por Claudio Medeiros
Sócrates: (…) Vê se discorro bem! Não haveria dois seres semelhantes, por exemplo Crátilo e a imagem de Crátilo, se um deus imitasse não só a tua cor e a tua forma, como os pintores, mas reproduzisse também, exatamente, todo o teu interior, bem como a tua própria delicadeza e ardor e lhes infundisse monção, alma e pensamento, tais como em ti existem; numa palavra, se colocasse junto de ti uma cópia de todos os pormenores que tu possuis: Haveria então Crátilo e a imagem de Crátilo ou dois Crátilos?Crátilo: Parece-me que dois Crátilos, Sócrates.
Um mapa não é um duplo menos tangível do real, ele não é um espelho, como também não se esgota na humanização do espaço no plano. A cartografia é a experiência dos limites e das determinações. Antes dela, teria havido algo como a indistinção de uma mata fechada, então alguém propôs inventar a cerca: o mapa surge junto da propriedade privada. Existem cartografias que precisam ser lidas como poesia n’O livro das semelhanças, de Ana Martins Marques. Existem poemas inclusive que, tal como mapas, são idênticos a si, na medida em que exigem a instituição/apropriação de suas heterotopias.