Claudio Medeiros

PEQUENA CRÍTICA | A ORDEM DAS COISAS: SOBRE “O LIVRO DAS SEMELHANÇAS”, DE ANA MARTINS MARQUES

por Claudio Medeiros

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Sócrates: (…) Vê se discorro bem! Não haveria dois seres semelhantes, por exemplo Crátilo e a imagem de Crátilo, se um deus imitasse não só a tua cor e a tua forma, como os pintores, mas reproduzisse também, exatamente, todo o teu interior, bem como a tua própria delicadeza e ardor e lhes infundisse monção, alma e pensamento, tais como em ti existem; numa palavra, se colocasse junto de ti uma cópia de todos os pormenores que tu possuis: Haveria então Crátilo e a imagem de Crátilo ou dois Crátilos?
Crátilo: Parece-me que dois Crátilos, Sócrates.

Um mapa não é um duplo menos tangível do real, ele não é um espelho, como também não se esgota na humanização do espaço no plano. A cartografia é a experiência dos limites e das determinações. Antes dela, teria havido algo como a indistinção de uma mata fechada, então alguém propôs inventar a cerca: o mapa surge junto da propriedade privada. Existem cartografias que precisam ser lidas como poesia n’O livro das semelhanças, de Ana Martins Marques. Existem poemas inclusive que, tal como mapas, são idênticos a si, na medida em que exigem a instituição/apropriação de suas heterotopias.

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PEQUENA CRÍTICA | EXERCÍCIO SOBRE “TRÊS SEMBLANTES” DE LUCAS MATOS

por Cláudio Medeiros

© Rômulo Queiroz

© Rômulo Queiroz

Lucas Matos faz da dívida o princípio que rege a órbita da vida e atrela corpo e mundo a expectativas – indevidas – implicadas nas relações de crédito. “Todos estão em dívida (…). Não há quem não deva, não há quem não tema”. Porque as palavras compram e vendem, o que significa que o sentido é um pacto que elas fecham entre si, um compromisso que dividem segundo um tipo específico de divisão social do trabalho.

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