Liv Lagerblad

ENTREVISTA | O criZe, com Liv Lagerblad

por Andrea Streva

Andrea: Por que crise aparece no título do livro como substantivo masculino?

Liv: Para caracterizar a opressão do patriarcado enquanto presença quase que fisiológica e que vai minando desde dentro, mas é também um espelho do ambiente social, ou seja… do fora. Tem uma coisa que eu gosto do flusser onde ele diz “a poesia é o nitrato de prata do pensamento, viramos o espelho” e diz sobre a poeticidade da circunstância do masculino que eu aludo nesse título, no sentido de que seu reflexo passa a interessar pelo avesso, quero ser aquilo do que o espelho é feito. Mesmo que ao olhar o nitrato ele deixe de revelar o que antes refletia. O crise seria fraciona-lo em pequenos lampejos reluzentes, um mosaico desse espelho reflete toda a cisão de meu ego e seus fantasmas-fissuras, mas não tem compromisso em retratar o que quer que seja, não é um reflexo fiel.

Andrea: Como “o” crise atravessa seus poemas?

Liv: Vinha falando sobre isso. No caso do crise foi o motor inicial. O primeiro arquivo gerado teve uma intenção de auto-cura. Serviu para dispor a psique na frente dos olhos e selecionar o que interessa. Creio que boa parte do que eu fiz veio depois da crise, a parte mais trabalhosa, são os momentos em que edito o texto. Tento ser uma boa editora de mim mesma. Acho que saber lapidar a torrente bruta, que não pude considerar uma obra quando observei, foi o que eu tentei aprender com o crise. Mas não acho necessário que se tenha que passar por crise pra escrever, escrevi a vida toda, e isso me constituiu e me salvou inúmeras vezes antes e depois de ser diagnosticada psicótica. é parte de minha experiência, a psicose, então desponta no meu texto, isso de ter habitado uma realidade paralela é uma seara rica que tento explorar sem fidelidade aos enredos iniciais, mas escrevo e estou a maior parte do tempo, sã, ou medianamente sã, mas capaz de um sorriso funcional. digo medianamente sã porque a sanidade é um exercício diário pra mim, escrevo já há alguns anos com as vozes que escuto, e vou selecionando junto com minha poética os palpites que me vem inteiros na cabeça, aprendi com o texto a reverter o que até então foi patologizado ao meu favor. Sem tirar os méritos da química, claro. (mais…)

3 POEMAS | LIV LAGERBLAD

por Heyk Pimenta

Liv Lagerblad é carioca, artista visual e poeta. Passou a fazer parte da oficina nesse ano, contribuindo com os debates e conduzindo exercícios de criação. Produtora voraz, a artista diz escrever para organizar a vida. Um poema para começar o dia, assim ela faz. As coisas encontram seus lugares e ela segue. Liv estreou nos livros no ano passado, publicando 10 poemas em edição artesanal pela coleção Kraft, da Editora Cozinha Experimental. Lançamos juntos os livros no dia do seu aniversário. Como ela disse, é bom ter irmãos de começo. A editora campineira Urutau prepara um segundo volume dos poemas da poeta, ainda para esse ano. Conheça três dos seus poemas.

(mais…)