3 poemas

3 poemas | Frederico Klumb

por Rafael Zacca

criança triste diante de guerras que não viu

Nas promessas sempre vivem umas quantas crianças, ou, pelo menos, um tom de fábula dos livros infantis. Nelas o que se recusa, já se disse, é justamente a renúncia. É isso o que vive no tom de voz melancólico de Frederico Klumb ao atravessar tempos, lugares e as obras de outrxs artistas, ao carregar, nos seus olhos cineastas, feridas “de guerras / que não viram”. E, tal como as promessas, seus versos surgem sempre diante da probabilidade quase certa do acidente: “a última noite / no corredor da morte / é a mais calma”. O que se recusa, já se disse, é justamente a renúncia. Nos poemas aqui apresentados, essa recusa se manifesta na recriação de pequenos instantes cinematográficos, confundidos à vida do eu-lírico. Junto ao tom melancólico, portanto, quero chamar a atenção para o pequeno frêmito que se agita no fundo de sua poesia: “o sono dos peixes / de olhos abertos”. Ou: filma-se, de olhos fechados. Em um poema publicado recentemente na revista Modo de Usar, Frederico fixa a imagem de sua poesia até aqui na forma de um amor:

………………..você a me dizer
………………..que o que a gente têm é uma pequena
………………..revolução industrial

………………..linda e terrível

Perigo e redenção se confundem em uma mesma expressão. Certa vez, Fred me contou de um acidente que teve no trepa-trepa quando criança. Deve ter batido o queixo 7 vezes, e passou por umas quantas cirurgias. Quando conversamos, tenho a impressão de que esse acidente se repete, e o Fred segue vivo como as crianças seguem vivas depois de pancadas inacreditáveis. Seguem, então, três poemas de F. Klumb.

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3 poemas | Marcelo Reis de Mello ou o único lugar para ser sincero

por Heyk Pimenta

Quando conseguimos furar o bloqueio do cão-de-guarda-das-gafes-e-atos-constrangedores, por vezes aparece algum traço de sinceridade nos poemas. E isso não tem nada a ver com falar dos próprios defeitos como quem pede esmolinhas, não é estar cagado inteiro e pedir banho a quem passa. Durante o banho, tentar beijar na boca a alma caridosa.
Desde que li os poemas do Marcelo, já em livro, eram do Esculpir a luz, publicado na sua própria editora, a Cozinha Experimental, tive um encontro raro com a sinceridade. O desgraçado cantava os avós, as meninas que quase o mataram, os amigos mortos, sua sujeira, sua pequenez, cantava tudo sem pedir desculpas, sem se gabar, cantava como quem reconhece a correnteza e nada e cansa e entende que não há margem, há só correnteza. (mais…)

3 poemas | Ana Carolina Assis

por Rafael Zacca

um bicho magro assustado diante dos embrutecidos

Susan Buck-Morss sugeriu há alguns anos que tornar-se adulto no capitalismo é produto de uma tática anestesiante. Não é coincidência que, ainda no século XIX, no auge do desenvolvimento industrial, tenham proliferado tanto as perfumarias quanto os entorpecentes por via olfativa, compensando (e/ou reforçando) a anestesia generalizada. Talvez seja por isso que os poemas de Ana Carolina Assis, uma poeta de São Gonçalo, a um só tempo sejam objeto de comoção e estranhamento. Seus versos, para falar com seu próprio idioma “crispado”, “demoram feito charque”, e pensam “não / com o cérebro / [mas] com o corpinho / úmido e mole”. Uma proliferação de bichos, texturas e cheiros – na solidão terrível dos versos curtos, qualquer coisa como uma criança sem a companhia de outras crianças – tentam, não sem algum desespero, uma reeducação estética às pressas. Não querem, no entanto, ensinar-nos qualquer humanidade. A criança ou os bichos querem devolver alguma coisa que nos foi tomada, ou negada – “os ralos regurgitando carne e atraso pros jantares”. Os adultos que comam sozinhos, parece dizer Ana; sem nomes para (mais…)

3 POEMAS | LIV LAGERBLAD

por Heyk Pimenta

Liv Lagerblad é carioca, artista visual e poeta. Passou a fazer parte da oficina nesse ano, contribuindo com os debates e conduzindo exercícios de criação. Produtora voraz, a artista diz escrever para organizar a vida. Um poema para começar o dia, assim ela faz. As coisas encontram seus lugares e ela segue. Liv estreou nos livros no ano passado, publicando 10 poemas em edição artesanal pela coleção Kraft, da Editora Cozinha Experimental. Lançamos juntos os livros no dia do seu aniversário. Como ela disse, é bom ter irmãos de começo. A editora campineira Urutau prepara um segundo volume dos poemas da poeta, ainda para esse ano. Conheça três dos seus poemas.

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