PROJETOS | CARAVANA ALAMANAQUE 7

por Rafael Zacca

Parece que sim. A praia de Atalaia já viu tubarões. Ontem eu disse pro Rodrigo que não, mas tem até vídeo no youtube. Se tem vídeo no youtube deve ser verdade, é por isso que chamam de vídeo. Há dois anos um grupo de pescadores arranjou um tubarão-tigre de quase 4 metros, capturado a uns 30km da praia de Atalaia. Na foto, têm o tubarão em cima de um jipe, parece, e abrem a sua boca, sorrindo, como se o tubarão sorrisse também, mas não sei se os tubarões caçam para sorrir. Um dos moços não sorri. Ostenta um bigode, um boné e um joinha.

Parece que sim. O Almanaque vai sair. A Ana tava preocupada, e a Duda desesperou quando a Izabela Pucu, diretora do CMAHO, explicou pra gente os nossos prazos. Augusto segura bastante o rojão, acho que sem ele o projeto teria degringolado. Tenho dito pras pessoas, é uma doideira fazer um livro coletivo. A Duda me disse que se tivesse ouvido falar desse projeto, se dele não participasse mas soubesse, teria pirado, teria largado tudo pra ir lá fazer junto. Convivência ou largar tudo? Com todo o aperto, Duda opta pela convivência. É uma doideira fazer um livro coletivo, mas parece que optamos por sim. Pra vocês entenderem: a Duda é um bicho pequeno, de pouco mais de metro e meio, ligada no 220v, mas com corpinho de 110v, ela chega perto e a gente ouve aquele rangidinho da tomada, bz, bz. Até o Heyk parece menos preocupado; pra vocês entenderem, o Heyk é um cavalo de força com a cara de muitos despertadores.

Parece que sim. O Almanaque Rebolado – ainda não sabemos se é esse o nome definitivo – esse projeto artístico-pedagógico vai sair. Tenho gostado de dizer pra mim mesmo que sou oficineiro, mais que poeta, mais que estudante, mais que professor – oficineiro. A possibilidade de fazer junto. Pra vocês entenderem, tudo isso significa pra mim um disco do Robertinho do Recife – procurem saber, tem no youtube, Ah! Robertinho do Mundo! 1983. O Almanaque Rebolado vai ter texto coletivo, vai ter exercício pra você não enferrujar a mão, vai ter plano de aula de oficina de poesia, vai ter horóscopo, vai ter previsão pros anos futuros. O time, como os pulmões, diminui e aumenta dia sim dia não. Aqui em Aracaju o vento lambe desajeitado o centro dos coqueiros, e faz aquela zoada.

Parece que sim. Nossa residência é uma Caravana Almanaque. Estamos cada vez mais próximos, e é sempre muita crise. Crise e crítica sempre namoraram. São um casal tão bonito, parecem irmãs. A sobrancelha de uma parece com a da outra, os olhos castanhos, etc. e tal. Mas a que pé anda? Temos designer, temos selo, muita coisa por fazer. Todos os dias nos damos motivos pra continuar. Ainda não tem vídeo no youtube. Dizer que a gente fabrica babydoll de nylon é jeito de encher de fumaça a questão. Digo melhor: temos fabricado amor, desses de convivência mesmo, com brigas, estranhamentos, muito espelho, dorzinha no peito, e aquela sensação gostosa de fazer as coisas de mãos dadas, juntinhos, coladinhos. Gostamos do refrão – você você você. Gostamos também daquele pagode romântico: faça de conta que eu sou seu namorado. Todos gostamos de cantar, mas é estranho como não consigo lembrar da voz do Fred cantando. O Lucas é a nossa Bethânia.

Até o Zoé parecia mais animado. Voando pra cá uma sergipana de 2 ou 3 anos escondia o rosto entre as mãos quando percebia que eu ficava espiando. Estava tomando notas para escrever esse texto. Pensava: essas crônicas sobre o Almanaque têm sido sobre o Zoé? Pra vocês entenderem: Zoé é filho da Marianna e do Heyk, e bola com a gente o projeto. Vai fazer um aninho agora. Não esconde o rosto. Fico pensando como será se conviver com a pequena sergipana. Que poderão ensinar um para o outro? Quando o Guilherme soube que Heyk e Marianna estavam grávidos, chorou que nem um bebê. Escondeu o rosto entre as mãos. Pra vocês entenderem: o Guilherme é uma pipa de cabresto firme que se desprendeu das mãos de uma criança, agora anda rodopiando em torno da própria rabiola, um astro colorido dentro da atmosfera.

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